
Sabe o herói do título, a estrela da equipe? Ele não rende mais e todos
no clube acreditam que ele precisa sair para que tudo volte ao normal.
Só que o sucesso passado deu ao ídolo um salário gordo e hoje parece que
ninguém está disposto a bancá-lo. O clube poderia dar uma forcinha e
liberá-lo, mas esse astro ainda é uma das poucas opções do treinador,
que não tem um grande elenco. O problema é que, para contratar, a
diretoria precisa se livrar justamente do veterano, protagonista da
história.
É esse o círculo vicioso que, hoje, mantém Emerson no Corinthians. E o
atacante não é o único a viver essa situação no clube do Parque São
Jorge. De Alexandre Pato a Ibson e de Douglas a Julio Cesar, a inflação
criada pelos títulos de 2012 tornou-se a maior vilã do Corinthians
atual, que sofre para mudar sua cara e reagir.
Emerson é um dos maiores salários do elenco, ganhando cerca de R$ 500
mil mensais e com contrato até julho de 2015. Desde o fim do ano
passado, dirigentes do clube torcem o nariz para o jogador, que tem
histórico de indisciplina e não está rendendo bem em campo. Perder o
autor dos dois gols do Corinthians na final da Libertadores já não é
mais um problema para os cartolas, portanto, há meses, e o planejamento
financeiro de 2014 chegou a incluir essa saída.
O problema é que está difícil encaixar Emerson no mercado. Até agora,
ninguém se interessou realmente pelo atacante, exceção feita a um
"namoro" com o Atlético-MG e que envolvia uma possível troca por André,
mas que naufragou. O alto salário é proibitivo para a maioria das
equipes e o passado de polêmicas não ajuda.
Sheik não é o primeiro a passar por isso. Antes de fechar com o São
Paulo, Alexandre Pato foi oferecido a pelo menos três clubes, e nenhum
topou arcar com os custos que envolviam o ex-jogador do Milan. Para
enviá-lo ao rival do Morumbi, o Corinthians topou pagar 50% do salário
do jogador, como fez também com Douglas, emprestado ao Vasco.
Com Emerson, isso ainda não é possível. Hoje, Mano tem apenas quatro
opções de ataque já minimamente testadas: Guerrero, Sheik, Romarinho e
Luciano. A situação é tão difícil que, com os dois primeiros lesionados,
o técnico promoveu a ascensão de Malcom, de 17 anos, ao time principal.
Perder Emerson significaria reduzir ainda mais um elenco já diminuto.
Essa necessidade na posição já foi determinante para o Corinthians ter
renovado o contrato do atacante no ano passado. Em 2013, o único reforço
para o setor foi Alexandre Pato, e Tite passou a reta final do
Campeonato Brasileiro improvisando Renato Augusto como centroavante
quando suas primeiras opções falharam.
No último fim de semana, Emerson não foi relacionado para a partida
contra o Atlético Sorocaba e as especulações sobre o futuro d jogador
aumentaram. Ele vinha com dores na panturrilha, não jogou na semana
anterior contra o Penapolense e ficou mais uma partida afastado, mesmo
já recuperado.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu sob a gestão de Mano Menezes. O
treinador argumenta que mais dias de treinos antes do retorno deixam os
atletas com ritmo de jogo, o que facilita a entrada em uma equipe que
ainda está em formação. Antes do Sheik, Guerrero, Renato Augusto e Fábio
Santos viveram situações semelhantes.
Emerson deu sinais de insatisfação, mas seu estafe diz que ele só pensa
em cumprir o contrato. O Corinthians também nega qualquer atrito e
ressalta que o jogador sempre foi utilizado por Mano quando esteve à
disposição. A necessidade de ter o atacante em campo, portanto, seguiria
sendo um obstáculo para a saída do Sheik.
Danilo já viveu algo parecido. Quando decidiu pela renovação do meia, no
último mês, o Corinthians pesou o fato de que nenhum de seus meias, com
a exceção de Jadson, inspirava confiança. Rodriguinho e Zé Paulo ainda
não convenceram, enquanto Renato Augusto passa muito tempo no
departamento médico. O veterano, então, serviria por mais algum tempo
como eventual parceiro de Jadson, dada a falta de profundidade do
elenco.
A situação de Emerson pode mudar nos próximos meses. O caminho mais
provável é que o clube consiga "facilitar" a saída de Emerson quando
inchar seu elenco. Dois reforços no setor, por exemplo, permitiriam que o
Corinthians se propusesse a pagar parte do salário do jogador, o que já
faz com Douglas e Pato.
Para isso, no entanto, o clube precisa ir ao mercado com dinheiro em
caixa. Quem negocia com o Corinthians se escora na folha salarial
alvinegra (cerca de R$ 7,3 milhões mensais) e no status de mais rico do
país para pedir mais dinheiro. Tão alardeado nos últimos três anos, o
sucesso nos campos e fora dele se torna um empecilho.
O problema é que hoje o Corinthians vive uma crise financeira e não tem
dinheiro. Depois de um ano investindo alto em nomes como Pato e Renato
Augusto, o clube sentiu o baque da temporada sem conquistas e com
prejuízos como a perda de mandos de campo. Salários como o de Emerson
pesam para que a direção atue com mais cautela no mercado.
E não são só os vencimentos do Sheik que estão inflacionados. Um dos
problemas dos cartolas hoje é Julio César, titular do Brasileiro de 2011
que caiu em desgraça com a torcida no ano seguinte e hoje é terceiro
reserva de Cássio. O goleiro é extremamente querido no clube, mas ganha
cerca de R$ 180 mil por mês e pesa nas contas alvinegras com contrato
até o fim do ano.
O valor, resultado de uma renovação feita em seus melhores momentos no
time titular, pesa para que clubes menores não se interessem em
contratar o goleiro, o que ajuda a explicar por que o Corinthians não
quebra o seu círculo vicioso.
Fonte:
UOL notícias