Guerrero chegou com discurso humilde no Corinthians. Longe de ser uma
média com Tite. Faz parte da característica do atacante destacar o
coletivo e ajudar os outros. É assim na seleção do Peru, onde é a grande
referência. É assim em seu país, onde é o jogador mais idolatrado. E
ele diz, sempre, que só quer ajudar...
Foram apenas 35 minutos em
campo, somados os tempos dos duelos contra Cruzeiro e Bahia – nos dois
ele saiu da reserva. Pouco para o que quer mostrar. Sua primeira meta é
convencer o técnico que pode voltar ao esquema com um centroavante,
abolido desde que Liedson entrou em má fase.
– Tenho
trabalhado bem. Venho entrando aos poucos, pouco a pouco vou me
adaptando. Meus companheiros me ajudam bastante nessa adaptação. Quero
jogar de titular o mais rapidamente possível. Espero desequilibrar e
fazer um gol. O mais importante é melhorar a posição no Brasileirão –
afirmou, na última quarta-feira, no CT Joaquim Grava.
Há cerca de
duas semanas no clube, ele ainda busca entrosamento. Até mesmo fora de
campo. Fábio Santos e Welder estão quebrando o gelo, fazendo piadas,
principalmente de seu cabelo. Guerrero ainda é reservado, fala pouco e
fica mais com o compatriota Ramírez. Mas já tem encantado pela sua
personalidade.
Quando passa férias no Peru, faz questão de ajudar
instituições. É também o garoto propaganda da Unicef no país. No mesmo
período, aproveita para matar a saudades do filho Diego Enrique, a quem
vê pouco, e a quem declara o maior amor que sente por alguém. Em São
Paulo, ainda vive em um hotel, sozinho, mas quer mudar o cenário. Tão
logo arrumar um apartamento, chamará os pais, que ainda vivem no Peru.
Também
não teve tempo de comprar um carro, uma de suas paixões, e tem ido ao
CT de carona com o motorista do Corinthians, Messias, em uma van. No
trajeto, tem companhia de outro gringo, Burrito Martínez - que também
ainda vive em um hotel-, e também o ajuda a se soltar mais no clube.
Seu
maior medo é andar de avião. Em campo, não tem medo de nada. Nem de
brigar com torcedor, nem de extrapolar em uma entrada contra um
adversário. São erros do passado, ele garante. No Corinthians está mais
maduro. Pronto para ser feliz. E, claro, ajudar o quanto puder...
Confira as histórias e curiosidades de Guerrero
Amor ao filho
Tatuagens no corpo
Antes
mesmo de Guerrero tornar-se profissional, em 21 de junho de 2004,
nasceu Diego Enrique, fruto de um breve relacionamento com a brasileira
Marja Irene Santana. Diego só foi reconhecido depois de nascido, após um
teste de DNA, e foi registrado no consulado brasileiro em Munique. Ele
tem o rosto do filho (na época recém-nascido) tatuado na região de seu
abdômen. No ano passado, na Alemanha, chegou a dizer: “Me dói muito
viver sem ele". Em São Paulo, ele está morando sozinho, ainda longe do
filho, em um hotel próximo ao CT. Nos braços, ele ainda tem tatuada a
imagem da Virgem Maria e o seu nome escrito em dialeto chinês.
El Depredador
Apelido pegou no Peru
Em
2004, quando defendia o Bayern de Munique (ALE), o atacante vivia uma
grande fase de gols. O fato aliado ao penteado adotado na época, o
“rastafári”, fizeram-no ser chamado de “predador” pela imprensa. “Acho
graça do apelido. Acredito que foi por causa do penteado, mas não sejam
maus, não me pareço ao monstro desse filme”, disse, em alusão à ficção
dos EUA “Alien vs. Predator”.
Ações sociais em seu país
Ajuda: ‘Deus dá mais’
Quando
passa férias no Peru, Guerrero costuma ajudar crianças carentes em
instituições. Depois de ser artilheiro da Copa América do ano passado,
ele fez uma visita a uma instituição e levou bolas e camisas para
crianças, deixando uma mensagem: “Com diligência e perseverança, pode-se
fazer muito”. Todo Natal ele destina uma quantia para uma ONG no Peru.
Nos últimos dois anos, gravou comerciais para a Unicef pedindo apoio
para crianças. “Gosto de fazer coisas sociais, não somente por ter muita
pobreza no mundo, mas porque eu tenho a sorte de ser um privilegiado e
ter ganhado dinheiro. Ajudar pessoas que não têm nada me faz muito bem.
Entendo que todos os jogadores teriam de ajudar as pessoas na rua. Tenho
certeza de que Deus lhe dá mais quando você ajuda ao próximo”, afirmou
ele.
Medo de avião
Trauma após morte
Guerrero
toma medicamentos para dormir toda vez que tem de pegar um avião. O
trauma vem desde 1987, quando seu tio José González Ganoza, ex-goleiro
do Alianza Lima, morreu em acidente aéreo com toda a delegação, após uma
partida pelo Campeonato Peruano. Na época, Guerrero tinha apenas cinco
anos de idade.
Cavalos e carros
Aposta com jogador
No
início da carreira profissional, na Alemanha, ele começou uma paixão
por carros. Desde os 19, já teve carros como Pathfinder, Porsche e
Ferrari. Como está há pouco tempo no Brasil, ainda vai ao CT Joaquim
Grava numa van com o motorista do Corinthians. Outra paixão de Guerrero
são os cavalos. Ele tem cerca de dez cavalos de corrida em um hipódromo
de Lima, no Peru, e gosta de apostar. No início deste ano, ele e o
compatriota Claudio Pizarro apostaram um cavalo em um duelo entre Werder
Bremen e Hamburgo, e o corintiano levou a pior.
Lado bad boy
Erros e aprendizado
Em
março deste ano, em derrota do Hamburgo por 4 a 0 para o Stuttgart
(ALE), o peruano foi expulso ao aplicar um carrinho violento no goleiro
Sven Ulreich. Com isso, foi suspenso por oitos jogos pela Federação
Alemã. “Foi uma m... porque prejudiquei minha equipe”, afirmou em
coletiva. Em abril de 2010, o jogador já havia recebido uma multa e
suspensão por cinco jogos por ter atirado uma garrafa de água (de
plástico) na cabeça de um torcedor que o teria ofendido na saída do
gramado. Na apresentação no Corinthians, ele disse que não era "bad boy"
e que havia aprendido.
Espírito coletivo
Também com a seleção
Durante
as eliminatórias, no ano passado, a imprensa peruana apelidou de
“Quarteto fantástico” o ataque da seleção formado por Guerrero, Farfán,
Pizarro e Vargas. Em coletiva, ele fez um apelo aos jornalistas: “Esse
apelido não me agrada, não gosto que nos chamem de quarteto fantástico.
Aqui não tem estrelas, tem uma equipe, como diz o nosso treinador. Todos
correm e se esforçam para as vitórias”, afirmou.
Terapia
Tratamento após lesão
Em
setembro de 2009, o jogador teve a lesão mais grave da sua carreira.
Após um duelo contra a Venezuela, pelas Eliminatórias, ele teve o
menisco do joelho esquerdo operado e só retornou às atividades no fim de
março de 2010. “Foi terrível, me senti frustrado, deprimido. Fiz
terapia, que me ajudou a me tranquilizar, a me conhecer mais e encontrar
um equilíbrio”, afirmou Guerrero.
O mais popular
Assédio em hotel
Em
uma pesquisa realizada no Peru em janeiro, pela empresa “Ipsos Apoyo“,
Guerrero foi eleito por 91% dos votos como o mais comprometido com a
seleção nacional entre os jogadores que atuam fora do país. Até por isso
ele desbanca ícones como Farfán, Pizarro e Vargas em termos de
popularidade no Peru. No Brasil, a procura por ele foi tão intensa que o
atacante teve de mudar de hotel, em virtude do alto número de peruanos
que o “marcavam” de perto.
Mito da base
Nunca estreou no Alianza
Guerrero
começou no futebol nas categorias de base do Alianza Lima. Lá, ficou
até os 17 anos e já tinha fama de ter marcado mais de 200 gols. Sem
chance entre os profissionais, saiu para o Bayern de Munique em 2001, o
que causou briga na justiça entre os clubes. Ele seguiu na base e fez
sua estreia profissional apenas no dia 23 de outubro de 2004, pelo
Nacional.