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27 dezembro 2012

Balanço 2012 - Corinthians lidera avanços táticos no Brasil (Flu, São Paulo, Grêmio, Galo e seleção - Santos ficou para trás)

Em dezembro de 2011, o massacre do Barcelona sobre o Santos em Yokohama foi reduzido no Brasil à excelência (inegável) do time catalão diante da passividade e da admiração (aceitáveis) dos oponentes que só conheciam Messi no videgame.

Pouco se falou dos equívocos estratégicos de Muricy Ramalho, que garantiu que não mudaria o estilo de sua equipe e tentaria jogar e “desfrutar” do duelo. Mas, na prática, alinhou cinco na defesa e escancarou o meio-campo para o toque de bola do Barça. que só não ampliou os 4 a 0 porque treinou e se poupou na segunda etapa.

O passeio deixou claro os problemas de boa parte dos times brasileiros: setores muito espaçados, jogadores dedicados a apenas destruir e, com a bola, eram facilmente desarmados pela pressão adversária. Na frente, Neymar, Borges e Ganso pouco participativos na recomposição e esperando a bola que não chegava. Time dividido entre marcadores e criadores que não combatiam, nem jogavam.

Na virada do ano, o próprio Santos parecia ter aprendido a lição. No Estadual e no início da Libertadores, Muricy propôs uma dinâmica diferente: marcação avançada, valorização da posse de bola, ímpeto ofensivo.

Ganso se mexia e recuava para articular e era ultrapassado por Ibson e Arouca no 4-2-3-1 “torto” (ou “diagonal”) do alvinegro praiano. Neymar era o homem das infiltrações pela esquerda e, obviamente, a arma mais perigosa.


O Santos do início de 2012, no 4-2-3-1 'torto', com proposta ofensiva e valorização da posse de bola durou pouco.
O Santos do início de 2012, no 4-2-3-1 'torto', com proposta ofensiva e valorização da posse de bola durou pouco.

Com os jogos decisivos, porém, o treinador santista preferiu voltar à fórmula vencedora na conquista continental do ano anterior: linhas recuadas e ligações diretas procurando o craque da camisa onze. No Paulistão foi mais que suficiente para o tricampeonato. Mas na Libertadores parou no eficiente Corinthians.

O time de Tite que já sinalizava avanços táticos na conquista do Brasileiro amadureceu e ficou ainda mais coordenado para ganhar a América. Sem uma referência na frente. Os meias Alex e Danilo alternavam como “falso nove” no 4-2-3-1 habitual que varia para o 4-1-4-1 com a chegada do volante Paulinho como quarto meia.

Na decisão da Libertadores contra o Boca Juniors no Pacaembu, uma mudança decisiva: Danilo foi ajudar Fabio Santos pela esquerda e Emerson, na frente, sacramentou a campanha invicta com o tão sonhado título sul-americano com dois gols. O segundo em “bote” treinado sobre Schiavi na pressão sem a bola, característica deste Corinthians já histórico.

Na final da Libertadores, a troca de Danilo e Emerson no 4-2-3-1 que foi decisiva para o título do Corinthians.
Na final da Libertadores, a troca de Danilo e Emerson no 4-2-3-1 que foi decisiva para o título do Corinthians.


Para o Mundial, Tite pediu um típico centroavante para reter a bola na frente e concluir as jogadas. Paolo Guerrero chegou, viu e marcou os dois gols corintianos no Japão. Duplo 1 a 0.

No primeiro sobre o Al-Ahly, os muitos erros técnicos do segundo tempo foram compensados pela organização defensiva que garantiu o resultado construído na primeira etapa com assistência de Douglas.

Na esperada decisão contra o Chelsea, Tite não contou com atuações inspiradas dos decisivos Paulinho e Emerson, mas o trabalho coletivo, marcando e jogando, equilibrou a disputa e o camisa nove apareceu novamente para definir. Quando a solidez da retaguarda foi vencida pelo ataque mais qualificado dos ingleses, Cássio apareceu. Taticamente, mais uma vez Emerson centralizou atrás de Guerrero e Danilo abriu pela esquerda. Em números, praticamente um 4-4-1-1.


Na vitória sobre o Chelsea no Mundial, um 4-4-1-1 que marcou, jogou e decidiu com Guerrero.
Na vitória sobre o Chelsea no Mundial, um 4-4-1-1 que marcou, jogou e decidiu com Guerrero.

O Corinthians foi o melhor time brasileiro (e sul-americano) de 2012 e pode (e deve) liderar um movimento de atualização tática no futebol cinco vezes campeão do mundo. Laterais que sejam defensores antes de se lançarem ao ataque como alas, zagueiros que são os primeiros construtores das jogadas e atacantes os primeiros a combater.

Funções bem definidas e executadas, com inteligência tática para se adaptarem aos contextos das partidas. Mas sem perder de vista a ideia e a proposta de jogo. Dedicação de todos, sem o “pitbull” que só desarma (e erra passes de um metro) e a estrela que coloca as mãos na cintura, exige bola no pé e normalmente produz menos que seu status sugere. Veja AQUI mais das ideias de Tite no Papo Tático.

O caminho é longo, até pela arrogância brasileira de achar que sua escola não tem o que aprender e é sempre imitada pelas que estão vencendo – por mais que a Espanha campeã mundial e bi europeia deixe claro que sua maior influência é holandesa, via Barcelona.

Mas já é possível ver alguns nichos de evolução em nossos campos, com a tática organizando o talento e equilibrando os setores.

A começar pelo São Paulo de Ney Franco, campeão da Copa Sul-Americana. O treinador resistiu à pressão interna para atuar com três zagueiros e ajustou a equipe com Paulo Miranda pela direita fazendo o balanço defensivo com Cortez do lado oposto.

Com o tempo, porém, o zagueiro improvisado foi se soltando para apoiar e o camisa seis, mais ala que lateral, se disciplinou para cumprir suas atribuições defensivas, inclusive a cobertura da zaga em diagonal por dentro.Fruto do 4-2-3-1 bem coordenado que ganhou força na marcação e qualidade na saída de bola com Wellington se juntando à Denílson à frente da defesa. Suporte para os passes de Jadson acionando Lucas e Osvaldo pelos flancos e Luis Fabiano no centro.

Estrutura que terá que ser revista com a saída do camisa sete e a inserção de Ganso, provavelmente no mesmo sistema com Jadson aberto no lado oposto a Osvaldo.


Com Paulo Miranda e Wellington, Ney Franco equilibrou o São Paulo campeão da Sul-Americana
Com Paulo Miranda e Wellington, Ney Franco equilibrou o São Paulo campeão da Sul-Americana

No Sul, o Grêmio de Luxemburgo apresentou a versão mais moderna do britânico 4-4-2. Inspirado ou não no que Falcão tentou implantar no Internacional ou no Manchester City de Roberto Mancini campeão inglês 2011/12, a execução é a mesma:

Sem a bola, duas linhas de quatro e um dos atacantes fechando a linha de passe para o volante mais plantado. Na transição ofensiva, os dois meias pelos lados se juntam à dupla de ataque com liberdade de movimentação e abrindo os corredores para os laterais descerem. Quase um 4-2-2-2 tipicamente brasileiro.

Elano e Zé Roberto foram os “wingers” na marcação, muito mais ocupando espaços e sem acompanhar o lateral adversário até o final, e os meias de articulação com a bola. Trabalho facilitado por Fernando e Souza no centro.

A ausência de Kléber por lesão fez o time perder fôlego e força ofensiva na reta final, mas o 4-4-2 “híbrido” é ótima ideia para 2013.


O 4-4-2 'híbrido' do Grêmio de Luxemburgo: uma das boas novas táticas de 2012 no Brasil.
O 4-4-2 'híbrido' do Grêmio de Luxemburgo: uma das boas novas táticas de 2012 no Brasil.

Assim como o 3-3-3-1 “à la Bielsa” que Abel Braga antecipou no Papo Tático (assista AQUI) para o Fluminense campeão brasileiro. Proposta ousada, mas que pode funcionar.

No título nacional, porém, o 4-3-3 com Deco alinhado a Jean variando para o 4-3-1-2 para encaixar a marcação sobre o losango adversário com a centralização de Thiago Neves foi eficiente. Apesar das muitas defesas de Cavalieri e da dependência da velocidade de Wellington Nem e dos gols de Fred.

De qualquer forma, o Tricolor foi mais um time que se propôs a marcar e jogar com intenso trabalho coletivo. Gum e Leandro Euzébio saíam com a bola sem apelar para o chutão e em várias ocasiões o camisa nove foi visto na própria intermediária auxiliando no combate.


No 4-3-3 que varia para o 4-3-1-2 de acordo com a movimentação de Thiago Neves, o Flu campeão brasileiro de Abel Braga.
No 4-3-3 que varia para o 4-3-1-2 de acordo com a movimentação de Thiago Neves, o Flu campeão brasileiro de Abel Braga.

O Atlético-MG vice-campeão impressionou pela intensidade, especialmente no Estádio Independência. Dinâmica que contagiou Ronaldinho Gaúcho, o meia central no 4-2-3-1 de Cuca, que trabalhou suas variações costumeiras: Marcos Rocha foi o “lateral-ala”pela direita, contando com a cobertura de Pierre.

Do lado oposto, Junior Cesar (depois Richarlyson) mais plantado, posicionamento compensado pelo incansável Bernard – marca o lateral, dá profundidade no contragolpe, serve e ainda marca gols. Mais moderno impossível.

O Galo intenso de Cuca com Ronaldinho criando, Bernard voando pela esquerda e Pierre cobrindo Marcos Rocha à direita.
O Galo intenso de Cuca com Ronaldinho criando, Bernard voando pela esquerda e Pierre cobrindo Marcos Rocha à direita.

A seleção brasileira, com Mano Menezes, também parecia encontrar um caminho de adequação às ideias mais atuais: 4-2-3-1 sem um típico “nove”, com Neymar à frente, quarteto ofensivo móvel com Hulk, Oscar e Kaká. Paulinho e Ramires como volantes ofensivos. Alternância de pressão e marcação na própria intermediária e  saída com bola no chão, mesmo “abafada”.

A CBF preferiu a solução política e Luiz Felipe Scolari está de volta. A vontade declarada de aproveitar a base de Mano é louvável, mas a prudência manda aguardar a convocação para o amistoso contra a Inglaterra em fevereiro.


O melhor Brasil de Mano Menezes, descartado pela CBF: 4-2-3-1 ofensivo e sem centroavante.
O melhor Brasil de Mano Menezes, descartado pela CBF: 4-2-3-1 ofensivo e sem centroavante.

Se na seleção a ideia é olhar para trás, a boa notícia é que os clubes brasileiros começam a avançar trabalhando antenados com o futebol jogado em todo planeta.

O Corinthians campeão do mundo,  de receita crescente e elenco mais forte com Renato Augusto e Alexandre Pato e o melhor treinador brasileiro, é bom norte dentro e fora de campo para uma silenciosa revolução que já está em curso. Em todos os setores.

Se cronistas e comunicadores da velha escola inspirada em Nelson Rodrigues já começam a falar de 4-2-3-1 sem tratá-lo como “linha de ônibus” ou “matemática para confundir” é porque algo mudou. Para melhor.

Que assim prossiga em 2013.

Fonte: ESPN

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