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A Copa, com seu calendário inflexível, impôs o deadline como o que realmente é: um fim de linha, em que ou a obra fica pronta ou problemas graves ocorrem
Daqui a três meses, no dia 12 de junho, quando a bola rolar no jogo entre Brasil e Croácia, na Arena Corinthians, em São Paulo, a história esportiva da Copa do Mundo da Fifa de 2014 começará a ser escrita -- e ninguém duvida que, seja qual for o resultado do mundial, este será um capítulo importante para a história do futebol brasileiro. A dimensão esportiva, entretanto, é uma camada -- talvez não a mais importante -- dentre as muitas que compõem a história desta Copa e que fazem, dela, um episódio emblemático para o Brasil, por sua capacidade de detonar insatisfações, evidenciar problemas e colocar em dúvida a competência dos brasileiros fora dos gramados.
O impasse sobre a preparação do Centro de Treinamento (CT) Fazenda Ipê, do Clube Atlético Sorocaba, para receber a seleção da Argélia -- o clube espera empréstimo de R$ 4 milhões da Desenvolve SP, instituição financeira do governo paulista, sem o qual alega não poder concluir a construção de um novo hotel e outras melhorias --, não é exceção entre as obras da Copa. Desde que o Brasil foi escolhido para sediar o torneio, problemas começaram a surgir e a se acumular, expondo um contexto geral altamente desfavorável para o país, que, embora não fosse ignorado antes da Copa, talvez não fosse percebido em toda a sua extensão e gravidade pela população.
Um dos aspectos que logo ficaram evidenciados é a precariedade da infraestrutura em setores essenciais. O pacote de obras da Copa, com ênfase para as obras de mobilidade urbana, nada mais é do que um atestado de que os brasileiros vivem em condições muito próximas do precário em seu dia a dia. Foi preciso que o país recepcionasse um evento esportivo de amplitude global para que os governos das capitais, dos Estados e da União voltassem seus olhos para os gargalos existentes há muito nos aeroportos e nos transportes coletivos. A atenção dada à mobilidade diante da perspectiva de receber os turistas da Copa deveria ser uma preocupação permanente dos governos, e não um esforço pontual motivado por um evento específico.
Os atrasos na execução de diversos projetos -- alguns deles sequer foram iniciados, enquanto outros ficarão prontos às vésperas do mundial -- mostram, além disso, que o Brasil é um país lento e emperrado, quando se trata de tirar obras do papel e torná-las realidade. Demoras de vários anos ocorrem com frequência na construção de creches, escolas, pontes, hospitais e outras obras públicas, mas o efeito dos atrasos é diluído (ou disfarçado) com soluções temporárias e paliativas. A Copa, com seu calendário inflexível, impôs o deadline como o que realmente é: um fim de linha, em que ou a obra fica pronta ou problemas graves ocorrem. O resultado é a corrida contra o relógio a três meses do mundial.
Um país que busca investimentos externos e um caminho seguro para o crescimento econômico sustentável -- e que se debate com um problema sério de produtividade, capaz de torná-lo menos interessante no âmbito dos emergentes e mesmo no cenário regional -- precisa detectar e enfrentar as causas de tanta morosidade e ineficiência, estejam elas nas leis, nos procedimentos administrativos ou onde quer que seja. Sem suprimir os mecanismos pelos quais a legislação procura evitar as fraudes, os superfaturamentos e os cartéis, certamente há muito o que pode ser feito para acelerar os trâmites das licitações e dos contratos, inclusive no âmbito dos tribunais de contas, que precisam ser bem estruturados para dar soluções rápidas aos litígios.
Descobrir o que deu errado e por que deu errado seria uma forma de tirar algo positivo da Copa, além das alegrias que o futebol -- se assim quiserem seus deuses caprichosos -- pode oferecer ao Brasil.
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12 março 2014
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