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05 dezembro 2012

Viúva revela carta inédita de Sócrates na chegada a clube italiano

No dia em que completou um ano da morte do ex-jogador Sócrates, sua viúva, Kátia Bagnarelli, revelou uma carta inédita do ídolo corintiano, em sua chegada a Fiorentina, da Itália, por onde jogou na temporada 1984/85, atuando em 25 partidas e marcando seis gols.

Nessa carta, escrita em forma de diário, Magrão descreveu como foi sua primeira impressão dos tão bem educados italianos, ante sua simplicidade de brasileiro interiorano.

Confira a íntegra da carta abaixo:

''A viagem não foi das melhores. A ansiedade em relação ao que me esperava não me deixou dormir, muito menos acalmar-me. Passar um ano em um país distante do meu, enfrentar uma cultura que por certo era muito diferente da minha me dava medo, se não pavor. Sempre tive dificuldade com o novo.

Talvez porque tenha saído tarde de casa, onde encontrava proteção até em demasia. É por isso que é tão confortável a casa da mãe. Além e principalmente por causa da realidade que vivia naquele momento: absolutamente envolvido com as coisas que ocorriam com meu povo e meu país.

De qualquer forma a opção foi minha e eu tinha que aproveitar da melhor maneira possível aquela experiência que tanta insegurança provocava naquele instante. Desembarquei em ''Fiumicino'', o aeroporto internacional de Roma, e me aguardava um motorista para lá de bem arrumado em seu terno impecável, gravata retilínea e sapatos cuidadosamente engraxados.

Tenho certeza que eu depois de uma viagem como a que ele fez estaria totalmente amarrotado da cabeça aos pés. Infelizmente não me lembro de seu nome, mas que era uma pessoa especial se via logo de cara. Um senhor fino, educado, que me recebeu muito bem. Subi no Mercedes que ele dirigia e pegamos o caminho de Florença, a famosa auto-estrada A1.

Na estrada, começamos a nos comunicar com dificuldades, pois eu não falava nada de italiano. Lembro-me quando escapou um ''permanecer'' da minha boca e ele me falou: isso..é isso, você já se comunica em italiano-- pelo menos foi assim que eu entendi. Fiquei feliz e muito mais animado a partir dali para não dizer comovido com a tentativa dele de me deixar à vontade.

Enquanto tentávamos nos comunicar, prestava atenção por onde passava, mas antes disso algo me impressionou: a velocidade que os veículos imprimiam. Algo sempre em torno ou quase 20 km por hora. Para mim, uma loucura. Porém, o piso era tão uniforme e as indicações tão claras que deveriam evitar muitos acidentes que no caso poderiam ser de grandes proporções.

As placas às vezes me enviavam para localidades que me pareciam íntimas como Assis de São Francisco, Arezzo ou Viterbo que me lembrava da vizinha de Ribeirão Preto Santa Rosa, enquanto outras me entretinham como Cortona que prometi conhecer um dia. Depois de pouco mais de duas horas, nos aproximamos daquela que seria minha casa nos tempos vindouros.

Entramos em Firenze, que continuava se chamando Florença em meu consciente, pelo pedágio onde muitas vezes mais eu passaria e muito perto daquele que seria meu lar nos doze meses seguintes. Imediatamente ele me comunicou que iríamos diretamente para o Estádio comunale onde a cidade me receberia. Chamou-me a atenção a arquitetura, as lambretinhas que muitos jovens utilizavam para o transporte e principalmente o cuidado com os afrescos que insistiam em surgir de cada prédio que se avizinhava.

Finalmente chegamos e ali me esperavam a direção do clube, muitos jornalistas e algumas centenas de torcedores que, mesmo fora do estádio, estavam para saudar-me e dar-me as boas vindas. Depois das apresentações fui levado a um pequeno auditório para o primeiro contrato com a imprensa.

Neste exato instante percebi que teria problemas de entendimento, porém neste instante percebi a presença de um personagem para lá de interessante. Quando da negociação ele tinha aparecido, para, segundo ele, auxiliar no que fosse necessário. Se não me engano ele possuía alguma relação com as companhias aéreas ou algo assim. Entendi como uma tentativa de se aproveitar de alguma maneira da situação e o dispensei achando que teria me livrado dele.

Qual não foi minha surpresa quando percebi a sua presença naquela coletiva de imprensa se apresentando para fazer a tradução? Como me encontrava em desvantagem já que a maioria dos jornalistas ali presentes aquiesceu à sugestão me mantive calado, mas atento até demais.

No entanto, em determinado momento entendi que ele não traduzia exatamente o que eu queria dizer e sim se manifestava como queria sem respeitar a minha postura e as minhas convicções. Aí, decidi e tornei isso claro que estava abrindo mão daquele ''intérprete''.

Foi o primeiro choque entre as minhas posições e o interesse dos italianos. Talvez tenham se chocado, mas não havia como aceitar o que estava acontecendo. A surpresa provocou estupor e interrompeu por algum tempo o debate até que outra figura, esta da melhor qualidade e que se tornou um grande amigo, Gianlucca Segatto, um rapaz que estudara e aprendera um pouco de português se colocou a disposição para nos auxiliar o que foi prontamente aceito. Assim, pudemos dar sequência aos questionamentos até que, enfim, todos ficassem satisfeitos.

Eu, interiormente, estava em frangalhos: cansado ao extremo e irritado com a petulância do ''aviador''. Sonhava com uma boa e silenciosa cama para descansar, entretanto me levariam para comer logo depois de me apresentarem aos ''tifose'', que é como são chamados os torcedores. O lugar era magnífico. Magnífico não, esplendoroso.

Um parque bem no meio da cidade com vista para os principais monumentos como a ponte Vechio e a catedral e que se alcança através de uma sinuosa subindo uma colina e chegando a uma praça onde predomina uma cópia em tamanho real da célebre imagem do David de Michelangelo. Uma brochura incomparável bem em frente ao restaurante aonde desembarcamos para o almoço.

Senti-me levemente constrangido, pois o local me pareceu extremamente chique para quem estava de camiseta, jeans e tênis contra toda a formalidade dos italianos de terno e gravata.'

Fonte: Lancenet

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