![]() |
Página original de 'A Gazeta' sobre Corinthians x Chelsea, em 4 de julho de 1929 |
O texto da vitória que o corintiano tanto sonha ler já foi escrito. Basta apenas atualizá-lo para as atuais regras ortográficas e trocar a vitória virtual por um resultado que efetivamente garanta o título mundial em 16 de dezembro, no Japão, à “Turma Paulista.”
“Turma Paulista”, assim se refere ao Corinthians a página esportiva do jornal ‘A Gazeta’ no dia seguinte ao primeiro e único confronto da história alvinegra contra o Chelsea. Sim, os times mais cotados para a decisão do Mundial de clubes de 2012 se enfrentaram anteriormente. Os ingleses vieram à América do Sul em 1929 para jogar com equipes do Uruguai e Argentina, países aonde na época o futebol já era profissional. De quebra, passaram pelo Brasil e duelaram com alguns clubes amadores, entre eles o Corinthians.
Antonio Risaliti foi testemunha ocular daquele jogo. “84 anos de uma vida de amor ao Sport Club Corinthians Paulista”, diz o cartão de visitas do quase centenário homem nascido apenas meia década depois de 1910, quando o Corinthians foi fundado.
Sr.Antonio é o membro vivo mais antigo do clube. “Eu aprendi a nadar às beiras do Parque São Jorge, no Rio Tietê”, conta o atleta, que credita ao esporte o segredo de sua longevidade. As provas do corintianismo estão intactas na carteirinha de sócio de 1939 e na foto do time de “bola ao cesto” do Corinthians. Ele é dos tempos em que construir um estádio em Itaquera era ideia de louco, o Pacaembu sequer existia e a Fazendinha não comportava jogos de maior importância.
Foi na hoje demolida casa palestrina, ou em termos mais modernos, arena palmeirense, o Parque Antarctica, que o ilustre torcedor viu o Corinthians fazer quatro gols e virar a partida com o Chelsea depois de estar perdendo por 3 a 0. O esquadrão londrino ainda faria outro gol, e o confronto acabaria empatado em 4 a 4.
Muito tempo passou desde aquele dia, mas Sr.Antonio se lembra dele com detalhes. O time corintiano ainda está na ponta da língua - Tuffy; Grané e Del Debbio; Nerino, Peres, Guimarães e Munhoz; Apparicio, Gambinha, Ratto e De Maria - e a partida permanece fresca na memória. “Os ingleses desmereceram o time do Corinthians e usaram de muita violência”, diz.
O texto de ‘A Gazeta’ ratifica suas palavras. “O Chelsea, em troca de uma boa licção technica sul-americana que recebeu, respondeu com um procedimento vergonhoso."
"Derrotados ou vencidos os argentinos, uruguayos e húngaros, sempre, tiveram uma attitude exemplar. Só louvores merecem os filhos de outras plagas que aqui se exhibiram. O mesmo não aconteceu com os rapazes do clube londrino. Demonstraram desconhecer as mais insignificantes regras de bons esportistas e cavalheirismo”, relata o jornal.
Corinthians mundial
Nos idos da década de 1920 Sr.Antonio não poderia imaginar que um dia seu clube estaria disputando um título Mundial. O duelo com o Chelsea foi apenas o segundo compromisso internacional da história do Corinthians. O primeiro aconteceu ainda naquele ano, contra o Barracas, da Argentina - vitória brasileira por 3 a 1. Os troféus estrangeiros ainda não dizem muita coisa para ele, que considera os três tricampeonatos paulistas conquistados entres as décadas de 1920 e 1940 as glórias mais importantes da história alvinegra.
Mas como o longevo torcedor gosta de lembrar, o Corinthians é por origem um time internacional. “Não tínhamos nenhuma restrição de raça. Havia espanhóis, sírios, libaneses, turcos. Tanto é que tive um primo que tinha acabado de chegar da Itália e virou fanático doente pelo Corinthians. Foi ele quem no meu aniversário chegou e me entregou uma carteirinha e disse: ‘Você agora é sócio, mas tem que pagar a mensalidade todo o mês’. No domingo era sagrado, íamos a todos os jogos.”
A origem italiana faz com que ele se refira ao arquirrival Palmeiras com respeito. Criado no tradicional bairro do Bom Retiro, na região central de São Paulo, cercado de amigos e familiares 'palestrinos', ele garante que não queria ter visto o inimigo rebaixado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Mas Sr.Antonio não perde a chance de provocar. "Quando o Corinthians foi rebaixado os palestrinos deram festa, tomaram muito porre. Mas dessa vez nós não fizemos nada, os corintianos respeitaram."
Ele também gosta de 'cutucar' outro rival indigesto. "A gente admirava o Santos. Mas muitos diziam que o Pelé de menino era corintiano."
O Mundial do Japão é a chance de descontar as 'surras' aplicadas pelo time do Rei entre 50 e 70. "Não imaginava nunca que o Corinthians disputaria um Mundial. O Santos teve esse título, não é? E agora os santistas não vão 'cantar de galo' mais. Vai ter outro que canta. É sensacional. Só não vou ao Japão porque meu estado físico não permite."
Sr.Antonio está ligado nos bastidores do torneio de dezembro. Colado na moderna TV de alta definição da casa em que vive há mais de 40 anos ele viu o Chelsea perder o último jogo da Champions League. "O Juventus de Turim aplicou 3 a 0 nos ingleses."
Mas engana-se quem acha que ele compartilha do otimismo dos corintianos que acreditam que uma vitória sobre o conturbado Chelsea é certa. "As pessoas falam que tem tudo para ser campeão, mas vamos esperar porque futebol tem muitas surpresas."
O sócio mais antigo do Sport Clube Corinthians Paulista acordará cedo em 12 de dezembro, na estreia do Mundial, para ver o time do coração. Só que o resultado não importa, é mero detalhe. Por que?
Um casamento de 84 anos não será abalado por causa de um jogo. "Não importa porque o Corinthians deixou um rastro muito bonito em sua história. Ser corintiano é algo indescritível e quem é corintiano não muda de religião."
Fonte: ESPN
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Mande seus comentários assim como as criticas também, mas as criticas construtivas. As sugestões e pedidos serão aceito com muito prazer. Os melhores comentários serão postados neste blogue. Assim como as criticas, sugestão e pedidos.