
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra
"Jogar aqui é como jogar no inferno". A frase de Caneta, do Cúcuta,
virou símbolo da Vila Belmiro. E foi isso que o torcedor do Santos
preparou para o time do Corinthians ao longo desta semana: um inferno.
De ovos, rojões, bombas e pichações terroríficas a capacetes de
policiais atirados em campo, os santistas mais do que nunca armaram seu
"alçapão" para receber o inimigo. Não contavam, porém, com um destemido
homem do outro lado: Tite.
Foi ele que, em decisão contestada, quis viajar a Santos um dia antes do
clássico. E o que parecia uma insensata atitude do treinador mostrou-se
genial a partir do apito do árbitro na noite desta quarta-feira. Ao
ouvir o pontapé inicial, o time visitante já havia passado por todos os
apuros possíveis em solo inimigo. Diante das mais variadas tentativas de
amedrontá-los, os corintianos não sucumbiram e deixaram a Baixada com
uma grandiosa vitória por 1 a 0.
A loucura de Tite
A confirmação da Vila Belmiro como palco do duelo de ida da semifinal da
Copa Libertadores mobilizou a torcida do Santos desde o primeiro
minuto. Para intimidar o arquirrival Corinthians e conseguir uma vitória
elástica, os santistas armaram todos os tipos de tramoias possíveis e
imagináveis. A saga corintiana em ambiente totalmente hostil começou
mais precisamente na segunda-feira.
Tite, o homem sem medo, avisou que o Corinthians viajaria a Santos já na
terça, treinaria na Vila Belmiro e dormiria na cidade. Parecia até
loucura, o prenúncio de uma derrota incontestável. Todos sabiam qual
seria o clima preparado pelos santistas para recepcionar seus rivais,
motivados também pelo desejo de eliminar no ano de seu centenário seu
maior adversário e deixá-lo mais um tempo sem ir à final da
Libertadores. Todos sabiam. Tite também.
Momentos de terror
As horas inospitaleiras corintianas começaram já em seus primeiros
minutos na Baixada. Em treino de reconhecimento na Vila, uma chuva de
ovos deu o cartão de boas-vindas aos "intrusos", seguida de rojões
atirados ao gramado por meio de uma fresta vinda do lado de fora. O
pânico continuou durante a madrugada, quando dezenas de santistas
rondavam o hotel corintiano com morteiros, fogos de artifício e
motoqueiros com bombas. Parecia até guerra.
Com poucas horas de sono, os jogadores se dirigiram ao estádio
escoltados por dezenas de viaturas da PM, além de motos - aos montes - e
soldados a cavalo. Na chegada, as ruas que os recepcionavam tinham
pichações de todos os tipos, com letras garrafais que os atemorizavam
com ofensas, ameaças e até lembranças de pancadaria ocorrida em
hipermercado da cidade em 2009, quando centenas de torcedores visitantes
saíram feridos. Terror...
Aquecimento, apitos e alçapão
Eram exatas 21h08 quando o Corinthians subiu ao gramado da Vila Belmiro
para aquecer. Ali, debaixo de apitos, vaias, mais rojões e foguetório,
sentiram mais um pouco do que os aguardava. Era o "inferno" definido por
Caneta em sua mais pura essência. Eles permaneceram ali por mais de 20
minutos, tocando a bola, correndo, percebendo o que teriam que enfrentar
antes de retornar aos vestiários e, posteriormente, de voltar ao campo
para jogar.
No retorno, ainda foram recepcionados por dezenas de sinalizadores e um
mosaico gigante com a palavra "Alçapão", iniciativa da torcida local
para mostrar quem é que mandava por ali. Entretanto, o desenho não saiu
do jeito esperado, e um amontoado de cartazes brancos eram balançados
sem contexto na arquibancada santista. O mosaico desconexo, por ironia
do destino, dava um presságio do que viria em seguida.
Time maduro, capacete e vitória
Graças à vinda precoce de Tite, o time do Corinthians entrou em campo já
acostumado ao clima de guerra criado pelos rivais. Não sentiu a
pressão, tocou a bola com maturidade e fez o gol. A Vila Belmiro se
calou. Surpreendido pelo comportamento rival, o Santos não se impôs e
foi dominado. A equipe visitante não se acovardou no recinto inóspito
simplesmente porque não havia mais com o que se acovardar.
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