Paixão do 'Lula do Equador' no caminho do Timão

Se o Corinthians conta com o apoio incondicional do ex-presidente Lula, que jamais se negou a ajudar e tem acesso irrestrito à atual direção do Timão, seu próximo rival na Copa Libertadores não fica atrás. Rafael Correa, atual mandatário do Equador, tem forte ligação com o Emelec. Ligação essa, aliás, que não é apenas afetiva. Nascido em Guayaquil, cidade onde está sediado o segundo clube mais popular do país, ele é presença constante no Estádio George Capwell, assim como seus são comentários sobre o desempenho da equipe em seu perfil no Twitter. Isso sem falar em encontros com jogadores e comissão técnica, com direito a almoços no hotel da delegação e até mesmo no Palácio de Carondelet. Um amor que rende até dinheiro ao clube. O desejo de ver o Emelec cada vez mais forte fez com que Correa revertesse sua amizade com Hugo Chávez em patrocínio na camisa. Em 2009, o clube passou a estampar em sua camisa a logomarca PDVSA, a estatal petrolífera da Venezuela, que rende cerca de US$ 4 milhões (cerca de R$ 7,5 milhões) por ano. O valor refere-se a 60% do orçamento do clube euquatoriano.À época, como não poderia ser diferente, os dirigentes garantiram que a aproximação com a PDVSA foi feita diretamente pelo clube, por meio de negociações entre os departamentos de marketing, de caráter estritamente comerciais. Algo que cai por terra com o fato de ter sido o primeiro acordo da petrolífera venezuelana com um clube do exterior. Vale lembrar ainda que, além da empresa controlada por Hugo Chávez, a estatal de telecomunicações do Equador (CNT) também investe financeiramente no Emelec. Na época da divulgação da parceria, os jornais do país noticiaram que a a influência de Rafael Correa foi fundamental para mais esse acordo em pról do seu clube do coração.Não é por acaso que, com a entrada de tais recursos, o rival corintiano pôde fazer reformas pontuais em seu estádio, além de se manter na briga pelo título do campeonato local nos últimos anos. A chegada do atacante argentino Luciano Figueroa, de 30 anos, com passagens por Villarreal (ESP), Genoa (ITA), além dos argentinos River Plate e Boca Juniors, dentro dos limites do futebol equatoriano, foi vista como um exemplo desse novo momento financeiro.As coincidências entre os dois estão até mesmo em momentos festivos. Lula foi o principal convidado da inauguração do Memorial do Parque São Jorge, em 2006. Assim como ocorreu com Correa, em junho do ano passado, que fez questão de aparecer na reinauguração do Museu Azul, organizado pelos próprios torcedores elétricos. Durante o evento, o mandatário prometeu que jamais deixaria de ajudar. Pelo visto, a promessa está sendo levada à risca...PATROCÍNIO É UMA EXTENSÃO DA ALBAEm termos de política externa das América, o patrocínio da estatal petrolífera venezuelana PDVSA ao Emelec, articulado por Rafael Correa com Hugo Chávez, pode ser considerado uma extensão da Alba, a Aliança Bolivariana Para os Povos da Nossa América.A organização, criada em 2004 após um acordo entre Venezuela e Cuba, com filiação do Equador cinco anos depois, prevê tratados de comércio entre seus membros e a luta incessante contra a exclusão e a pobreza - boliviano Evo Morales completa a lista de comandantes com orientação de esquerda da Alba. Em tempo: as convicções políticas do mandatário equatoriano não são deixadas de lado nem em eventos do clube. Na festa de 80 anos, que ocorreu em abril de 2009, Rafael Correa usou uma famosa citação do guerrilheiro cubano Che Guevara ao se dirigir para os jogadores: "Emelec, hasta la victoria, siempre  (Emelec, até a vitória, sempre)".EM SEU PIOR MOMENTO, CORREA TEVE APOIO DE LULA

A ligação do emelecista Rafael Correa com o corintiano Lula vai muito além do futebol. O laço de amizade do atual presidente do Equador com o ex-mandatário do Brasil chegou ao seu ápice em agosto de 2010, quando mais de 800 militares da tropa da Polícia Nacional se rebelaram em protesto à suspensão do pagamento de bônus, gratificações e promoções. Correa chegou a ser mantido como refém por algumas horas no Hospital da Polícia.Na ocasião, Lula foi um dos presidentes mais atuantes na defesa do mandatário equatoriano. Com frases fortes, o brasileiro foi importante para a repercussão do caso, que teve seu final feliz alguns dias depois. - Rafael Correa é um grande presidente e precisa ser respeitado. Vamos apoiá-lo sem restrições. Todos nós, presidentes democratas, precisamos condenar veementemente essa tentativa de golpe no Equador - afirmou Lula que, além de ligar para falar com o amigo, ainda pediu que o embaixador brasileiro no país fosse ao hospital onde Correa estava internado. Dois anos antes, Lula se reuniu com o mandatário do Equador para tentar ajudá-lo na crise com a Colômbia, que realizou uma incursão militar em território equatoriano e provocou a morte do porta-voz internacional e número dois das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes. O Equador reclamava da invasão de seu território pela Colômbia. A Colômbia, por sua vez, acusava o governo do Equador de acobertar as Farc.Lula foi quem intermediou e ajudou a buscar uma solução pacífica para o imbróglio.UM TORCEDOR APAIXONADOTRISTE - Dia 23 de março. Com o Emelec praticamente eliminado no Grupo 2 da Copa Libertadores, que tinha Flamengo e Lanús (ARG) nas melhores posições, Rafael Correa desabafou. O presidente do Equador afirmou que "faltava protagonismo em competições internacionais" e pediu que os dirigentes do clube "fizessem um planejamento mais efetivo e corajoso para a Libertadores". Por fim, ainda lamentou que o Emelec "não tem feito bons papéis em nível internacional", mas lembrou que era "necessário apoiar os atuais administradores do clube", que "fazem um bom trabalho".  FELIZ - Dia 12 de abril. Após uma noite de reviravoltas, a equipe emelecista conseguiu o segundo lugar do grupo 2 da competição sul-americana. A vitória sobre o Olímpia, por 3 a 2, não apenas eliminou o clube paraguaio diante de sua torcida, como tirou o Flamengo, de Ronaldinho Gaúcho. A decepção de Correa, então, virou euforia. O presidente equatoriano se juntou a milhares de 'hinchas' azuis para celebrar o triunfo. Em seu perfil no Twitter, assim que a classificação foi confirmada, ele escreveu: "viva Emelec".