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05 junho 2010

Irreverente e irônico

É um misto de irreverência com mau humor. De autenticidade com personagem. De razão com emoção. Definir Andrés Sanches, presidente do Corinthians e chefe da delegação do Brasil na Copa do Mundo de 2010, não é simples. É difícil saber quando ele fala sério ou quando brinca. Mas é justamente essa singularidade que norteia a personalidade de um dos dirigentes mais populares e influentes do país.

Sim, a presença dele na seleção brasileira no Mundial da África do Sul é uma jogada totalmente política. Por parte dele e também da CBF. Porém, Andrés faz questão de tentar mudar essa imagem. Desde a chegada a Curitiba, onde a seleção brasileira iniciou a sua preparação é assim. Avesso a assédio, o mandatário do Timão demorou a entender o motivo de o procurarem para falar da seleção.

- Não entendo o que querem de mim. Antes de aceitar isso, houve outras 18 pessoas e nunca vi nada de entrevista. É simples o que vou fazer: sou responsável por resolver qualquer problema que a equipe tiver durante a viagem e também por participar de reuniões em eventos Fifa, especialmente porque a próxima Copa é no Brasil – explicou Andrés, no aeroporto Afonso Pena, em Curitiba.


Antes de desembarcar na capital do Paraná, Andrés Sanches já tinha dado mostras de sua personalidade ímpar. Ainda em São Paulo, ele falou sobre a relação que teria com os craques da seleção brasileira. E afirmou que não proibiria ninguém de fazer nada, mas que não gostava de exageros. O presidente do Timão chegou a dizer que até mesmo rezar demais não é bom.

Em Curitiba, Andrés apareceu pouco. Foi discreto, sem fazer alarde da sua presença, embora muitos pedissem por ele nas coletivas ou nos treinos da seleção.

Bastou entrar no voo fretado da seleção brasileira para Joanesburgo, com parada em Brasília, para uma visita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o mandatário alvinegro começou a dar indícios da sua personalidade. Para muitos pode até parecer ofensiva a maneira como ele fala, mas de perto acaba sendo engraçado, muitas vezes irônica, o modo como Sanches lida com as coisas.

- Você está achando que sou o quê? Fofoqueiro? Eu não sou fofoqueiro não. Agora se quiser colocar aí que bebo para c..., pode colocar – falou Andrés quando questionado sobre o clima entre os jogadores na classe executiva da aeronave.

O presidente do Corinthians é sempre assim. Começa uma conversa impaciente, respondendo atravessado, mas aos poucos se acalma e fica simpático. A não ser que alguém insinue algo contra o seu caráter. Se for assim, o bicho pega.

- Pode me chamar de bêbado, de chato, de mal educado, do que for, mas não fala do meu caráter. Se tem uma coisa que não sou é traíra – costuma dizer.

Na África do Sul, Andrés Sanches tem sido bastante participativo. Não faltou a um treino e sempre senta no primeiro banco do ônibus que carrega a seleção brasileira. Impaciente, fuma um cigarro atrás do outro sempre que pode, como no intervalo e em parte do segundo tempo do amistoso contra o Zimbábue.

E até por esse jeito despojado, aparentemente “desencanado”, é que conquistou a simpatia dos jogadores. Não à toa é um dos alvos dos atletas nas brincadeiras.

- Os jogadores estão entrosados comigo, eles estão sempre brincando, falando do Corinthians... Isso é normal. E para mim não é novidade esse carinho. Eu trabalhei muito tempo nas categorias de base do Corinthians e aprendi a lidar com o jogador. Eles querem uma pessoa parceira. E tem outra coisa: eu jamais vi um time tão unido como essa seleção brasileira. É impressionante – relatou o chefe da delegação.

Na verdade, a personalidade de Andrés Sanches é mais do que informal. Chega a ser caricata. “Fã” de um palavrão, o mandatário alvinegro não deixa nenhum jornalista sem um “vai tomar no c...” no dia. Na maioria das vezes isso não é ofensivo. É apenas a maneira encontrada por ele para lidar com certas questões.

Para se ter uma ideia, Andrés evitou a todo custo que a reportagem tirasse foto sua com o agasalho da seleção brasileira.

Eu sei o que vocês querem. Isso tudo é para colocar lá na manchete: “Andrés fica bonito de verde”. Eu sei como é isso – comentou o presidente do Corinthians, em mais uma brincadeira com tom de seriedade, na porta do hotel onde ficou a seleção brasileira em Harare, no Zimbábue, local do primeiro amistoso preparatório. O problema para ele é que o Palmeiras, arquirrival do Timão, usa a mesma cor.

É por esse jeito espontâneo de lidar com os assuntos, mesmo que às vezes seja ríspido, que Andrés parece ter conquistado todos na CBF. Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da entidade, fez até uma brincadeira na última quinta-feira.

- O Andrés é o melhor investimento da CBF nos últimos anos. Com uma seleção fechada dessas, ele é a alegria de vocês, porque fala sempre – brincou Paiva.

No pouco tempo que está com a seleção, Andrés Sanches conseguiu até mesmo fazer Dunga relaxar um pouco. O técnico normalmente é mais sério em suas coletivas, mas na última, no dia seguinte à vitória sobre 3 a 0 sobre o Zimbábue, ele falou rapidamente sobre a sua rotina. E incluiu o presidente do Corinthians.

- O que eu faço mais aqui é trabalhar e de vez em quando vou à academia. Para vocês terem uma ideia, estou até levando o chefe da delegação comigo. Ele vai voltar em forma para o Brasil – brincou o comandante da seleção brasileira.

Andrés Sanches tem 46 anos e é presidente do Corinthians desde outubro de 2007. Seu pior momento no clube foi o rebaixamento à Série B e o melhor a conquista da Copa do Brasil em 2009. Seu mandato vai até fevereiro de 2012. Antes de enveredar na carreira de dirigente, Sanches foi feirante com os pais e conseguiu, também com eles, montar uma indústria plástica.

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